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Luiza Fecarotta & Perguntas à Mesa

  • Foto do escritor: Perguntas à Mesa
    Perguntas à Mesa
  • 1 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de abr. de 2021

O projeto Perguntas à Mesa convidou Luiza Fecarotta para batermos um bom papo. Papo virtual, claro, mas cheio de aromas da cozinha.


Luiza é jornalista especializada em gastronomia, atuou nas principais publicações editoriais do país, é barista e jurada do campeonato brasileiro de barista e também do renomado Latin America’s 50 best restaurants.


Luiza tem voz doce, de cadência suave que passa carinho e ternura a cada frase que diz. Foi em seu curso ‘Nina Horta: literatura de sensações’ que o encontro que originou a chegada do ‘Perguntas à mesa’ aqui na FiGAS aconteceu.

Em seu curso, Luiza vai além de Nina - que se tornou sua amiga ao longo dos anos em que Luiza editou os textos de Nina na Folha - e nos mostra tantos belos achados de ler e se emocionar sobre comida, que cada aula termina com gostinho de saudade e vontade da próxima terça chegar logo.


Reservamos o lugar de honra dela em nossa mesa e te convidamos a sentar conosco e também se deliciar com suas doces palavras.

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Foto: Bruno Geraldi


PERGUNTAS À MESA & LUIZA FECAROTTA


1. Quais são as suas motivações dentro da pesquisa na cozinha brasileira?

Tomarei emprestada a obra do antropólogo Roberto DaMatta que traduz cristalinamente o que me interessa na nossa cozinha. Ele trata a comida, que aqui se tornou familiar muito embora tenha recebido heranças de muitos povos, como um elemento definidor de caráter, de identidade social e de coletividade. O que me provoca na cozinha brasileira é o próprio Brasil e sua gente, que converte comida em linguagem e faz dela parte decisiva na memória social.


2. O que está te alegrando em 2021?

Notar que, mesmo sufocados, ainda temos a capacidade de ser solidários, tem gente passando fome, mas tem gente dividindo comida.


3. Você tem alguma receita favorita que possa compartilhar com a gente?

As receitas de que mais gosto são as feitas para mim, e não por mim. E agora? Sou afeita ao gesto de sentar à mesa e conviver. Esse ritual me remete à fogueira de antigamente, em volta da qual as pessoas se reuniam para esperar os assados e depois comiam juntas. Alguns estudiosos têm a compreensão de que a fogueira criou um espaço de comunhão inédito, e que o ato de cozinhar, que germina a cultura ao transformar a natureza em alimento, como interpreta Lévi-Strauss, rompe as noções de subsistência para atuar, também, como uma maneira de organizar a sociedade.


Comidas de Luiza


4. Como foi ministrar um curso on- line sobre a Nina Horta?

Minha ideia, quando formulei esse curso, eram encontros presenciais e bem calorosos, fincados nas trocas --falar, escutar, à moda da Nina. Diante do cenário de afastamento físico, arrisquei lançá-lo on-line, com receio, e tive algumas boas surpresas.

Embora não tivéssemos cercados da energia da proximidade dos corpos e eu tenha ficado alheia às expressões de todos os alunos, coisa de que gosto muito de observar, criou-se um sentimento de comunhão nas turmas. Estávamos vinculados por um encantamento comum: a obra da Nina, cuja construção tive o prazer e o privilégio de acompanhar ao longo de 10 anos dos bastidores do jornal.

Juntamo-nos de todas as partes do Brasil e do mundo --Alemanha, Holanda, Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, Argentina, Chile e Costa Rica-- para celebrar sua obra, que tem o vigor de torná-la eterna. Ainda bem.


5. Se Nina fosse fazer uma refeição, com uma amiga, qual seria?

Uma canja de galinha, será? Ela gostava de comida de alma, aquela que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada, como consta em seu texto clássico, e dizia que bom senso e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém --vale para ontem, hoje e amanhã.


6. Qual livro sobre gastronomia é essencial para entendermos sobre a vasta culinária brasileira?

Deve-se comer o Brasil --e escutá-lo. O que me levou ao entendimento mais profundo da nossa cozinha foi ouvir e observar quem a faz, e provar tudo que tive chance. Mas se quiser ler, sugiro três intelectuais basilares na contribuição do entendimento da nossa cozinha: Câmara Cascudo, Gilberto Freyre e Carlos Alberto Dória.


7. Indica uma livraria com acervo interessante de livros sobre gastronomia?

Meu avô me ensinou a amar sebos. Desde pequena frequento esses espaços empoeirados, de livros amarelados, nos quais se encontra o passado e o presente. Pela internet, perde-se um pouco da magia, mas chega-se às mesmas preciosidades.


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Luiza & Nina



Abrir o PERGUNTAS À MESA com Luiza fez muito sentido, e como respondeu lindamente, pesquisar à mesa brasileira nos provoca a digerir quem somos e a construir nossa memória como povo.


Também amamos o ritual de estar à mesa, e não vemos a hora de sentarmos juntas para tomar um aromático café com pedaço de bolo, pois o assunto comida nunca tem fim ele nos une e afaga nossos corações distantes.

Obrigada, Luiza.

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6 comentários


gorettifranca
21 de abr. de 2021

Senti saudade dos sebos do Rio, e de canja de galinha também....

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helena.brambilla
06 de abr. de 2021

Amei as perguntas, a fluidez e a sensibilidade de vocês! Me senti à mesa junto nesse papo delicioso!

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daisy.raposo
02 de abr. de 2021

Que delicia de papo, vontade de ler sem acabar...

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bomdia.figas
bomdia.figas
05 de abr. de 2021
Respondendo a

Oi Daisy, isso mesmo, que pena que chega ao final né?! Que bom que gostou!

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Letícia Gomes
Letícia Gomes
01 de abr. de 2021

Melhor definição para canja de galinha: cozinha de alma! Alma brasileira à mesa!

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bomdia.figas
bomdia.figas
05 de abr. de 2021
Respondendo a

Nina, maravilhosa! Viva alma brasileira

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