A VIDA COM CRIANÇAS

Num momento da vida você está tranquilamente jantando uma banana, ou pipoca, tomando drinks e cervejas com a galera, num outro, sua refeição envolve comida voando, chão sujo, rejeição ao alimento que foi cuidadosamente preparado o dia inteiro, arroz e feijão é regra em sua geladeira, e de repente você está devorando conteúdo sobre alimentação infantil, como fazer criança comer melhor, truques gastronômicos para bebês e sei lá mais o quê. Tem criança em casa!

A vida muda muito quando uma composição se altera, e se o caso for um pequeno ser humano que demanda cuidados e atenções redobrados, a bagunça é ainda mais intensa e profunda. As áreas da vida que se modificam com a chegada de crianças são várias, e acredito que a cozinha seja uma das principais.

Lembro que uma vez, na casa de amigos, me ofereci para cozinhar, e uma amiga que já era mãe prontamente respondeu “pode deixar que eu vou, eu tenho minha menina para alimentar”. Eu era adolescente, ainda tateando entre as panelas, e a amiga em questão tinha uma principal preocupação: que sua filha comesse, e precisava garantir isso. Cozinhamos juntas naquele dia, e foi super divertido o aprendizado. Quando temos crianças, temos responsabilidades e o foco é constantemente direcionado ao bem-estar deles.

Curso de papinhas, métodos que prometem fazer crianças comerem tudo e de tudo, livros e mais livros sobre técnicas para raspar o prato, artigos sobre como se acalmar perante recusas alimentares, estudos sobre nutrição e desnutrição infantil e muito mais, estão à disposição dos cuidadores de crianças. E nós consumimos tudo, em baixa ou larga escala, porque cuidar deles é parte importante de nossa existência.

Então, além de termos autonomia alimentar, temos também que pensar e gerenciar uma alimentação infantil, aquele estômago em desenvolvimento, que adora, por exemplo, carboidratos de fácil digestão que dá bastante energia para pular e brincar, e faz com que palavras como fome ou lanche sejam pronunciadas a cada 30 minutos ou menos. E dá-lhe ânimo para preparar comidas e comidinhas o dia inteiro, ou sequer ficar pensando se as escolhas são as melhores ou não. Na correria do cotidiano, o prático e rápido vira regra, e isso pode ser uma maçã ou biscoito, pipoca ou salgadinho.

Uma coisa é certa: o melhor que se pode fazer está sendo feito. Ou ao menos, tentando estamos.

Alguém disse que nasce uma mãe/pai, nasce a culpa. Parece ser verdade, e nessa jornada de criar pessoas, todo dia a culpa vem dar um oi por qualquer motivo que seja, e pelo que eu converso por aí, ela adora aparecer nas áreas da alimentação, porque é raridade encontrar quem esteja plenamente feliz com o jeito como a criança tem lidado com a comida. Seja como for, sempre há um porém, um item, uma mudança que desagrada a ideia que os pais têm de como aquele pequeno ser deveria comer.

E aí entra também a tal preocupação, outra constante na vida parental, e ela faz com que seja ofertado qualquer coisa que agrade o paladar infantil, para garantir que algo seja ingerido, não importa se vai nutrir, vale mais a barriga cheia. E depois, a criança recusa a “comida de verdade” e dona culpa faz ninho no ombro adulto, que só está tentando seu melhor em manter viva e saudável a criatura sorridente e saltitante,

Que ciclo! Que dificuldade isso todo dia! Que cansativo! Voltamos ao intenso conteúdo sobre alimentação infantil, e nos jogamos novamente na tentativa de pratos raspados que não sejam só os de macarrão!

Não há passe de mágica nem regra para o sucesso, afinal cada pessoa é única e descobrir o melhor jeito cabe ao indivíduo e seu contexto familiar.

Vale lembrar que as pessoas adultas ao redor, são para aquela criança o exemplo de como se portar no mundo, então estar atento sempre ao jeito como se relaciona com a comida pode ser um importante passo na tentativa de ver uma relação bacana da criança com seu alimento também.

A vida com crianças é uma vida de montanha russa, com todas as emoções podendo passar pelo seu dia repetidas vezes, tem dedicação, tem sorrisos, tem 52 lanches da tarde, tem machucados, tem abraços e sapequices. Que bom!

Imagens: @unsplash > @kelly_sikkema , life is fantastic, @kiana.bosman